domingo, 1 de outubro de 2006


DAREN RABINOVITCH

Para o Mário-Henrique

Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra

Arrancar os cabelos a não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos

Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
pôr-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adoslescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitroglicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.

António Maria Lisboa

Quem se identifica?

2 comentários:

  1. Eu.
    Com ressalvas: amando a horizontalidade dum sofá e sem nitroglicerina no leite, que detesto.Desculpa, mas o meu estado de espírito hoje não está para mais brincadeiras...:)
    Bom domingo.

    ResponderEliminar
  2. P.S.
    Ah... e obrigada.
    O poema desencadeou um sorrisinho na minha boca. Eu prezo, com paixão, esses malucos surrealistas lusitanos.
    Beber muitos copos de oiro com Cesariny vinha a calhar...

    ResponderEliminar