segunda-feira, 30 de abril de 2007
"As cartas escrevem-se pelas paredes"
Deixei que os vizinhos saíssem primeiro,
antes de toda a gente, como se eles não fossem
o que são, quando eu durmo.
Uma coisa é vergar uma barra de aço,
outra é acordar o que não dorme.
Como dois olhos inúteis, assim se
viam as minhas mãos, quando a casa era
estéril e a música não tocava.
Em todos os corredores, uma marca
de fogo nas paredes, ardendo como água,
calcinando as memórias que estendi
por elas, de alto a baixo
um papel de parede longínquo e
absorto de mim próprio.
Ensinei-me a ler para conseguir
que as tuas cartas fizessem sentido,
quando mas mandavas:
estendia à luz aquele papel azul,
com enfeites de uma só cor espalhados
aleatoriamente pela folha - no meu tempo
não entendia nada
agora quando olho para a folha
consigo ver-te.
E mesmo assim parece que continuas sem
me responder. Os dias semeam-se entre as
minhas palavras. Não acaricio o rosto já, com medo
do que vem depois.
Parece que as mãos se tornaram pedaços de
ferro, frias, sólidas - já não se desfazem
enquanto te escrevo a carta:
Ontem foi um dia tarde demais. Ontem, as crianças
jogavam no parque.
Hoje, se retornar, não estarão mais lá. Saíram
sem aviso, foram-se embora, cansaram-se de tanto
olhar um pedaço vazio de mundo, onde velhos
se contorcem para fingir que ouvem, enquanto se
deleitam com retratos a carvão e palavras
sem sentido.
Tudo lhes causa transtorno, nos dias que correm.
Outro dia, foi um jovem que se perdeu. Pegou nas
coisas que tinha, zarpou mundo fora como se ele
ainda existisse - sem medo.
Mas outros dias há muitos. Jovens que partem
há-os todos os dias, nós é que nunca os contámos.
E eu nunca parto. Fico sempre aqui, de mochila às costas,
sobretudo na mão, o livro na outra, e uma carta
na algibeira, de tinta já gasta e envelope
um pouco encardido.
Por isso mesmo, quando me preparo para partir,
sento-me - como se estivesse a curar um cansaço que
ainda não me tomou.
Como se as minhas mãos já tivessem escrito milhentas
páginas de coisas sem sentido, de textos sem
morada ou sem remetente definido - enfim, coisas.
Coisas como as praias. Praias como coisas.
Textos como poemas. Poemas como não-textos.
E barras de aço sem sentido. Daquelas que quebram
ao mínimo toque, mesmo que seja uma carícia. Mesmo
que as nossas mãos se unam e encenem um gesto
meigo e lento - como a nossa face a olhar o mundo -
como o mundo a perder-se lentamente pelas pálpebras
que já não se fecham.
À noite é quando tudo se junta dentro de nós,
e se estende pelo chão. Aí, cria-se ininterruptamente
uma vontade de varrer o soalho para que nenhuma
outra cara grite mais, como se as paredes tivessem
vida
e nós não.
As cartas escrevem-se pelas paredes - é esta a verdade
que o mundo segura. E as chamas de isqueiro todos
os cigarros todos os acidentes todas as nascenças
mortes descalabros guerras balas tudo isto
tem um sentido
mas o dos textos, esse, ainda o procuro.
Por isso é que escrevo cartas, ainda que só hoje
tenha aprendido a ler as tuas.
Sérgio Xarepe
domingo, 29 de abril de 2007
(+) 5+5.
Obrigada aos 10 e a tantos + outros que só não estão na minha barra de links por preguiça e desactualização.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
Quebra-cabeças

Thinking Blogger Awards
. Big Blog is Watching You criou um verdadeiro quebra-cabeças às Linhas Tortas: escolher 5 blogues. Existem tantos e tão bons e as escolhas são sempre subjectivas. Sabemos (?) que em determinados contextos, as nomeações, os prémios, as homenagens e outros afins têm muito que se lhe diga. Meritórios sim, quero acreditar que na maior parte das vezes, mas também muitas outras vezes, mais do que as desejáveis, por interesses e influências. Seja por uma ou por outras razões, os mesmos reflectem determinadas perspectivas, visões pessoais ( o que acho bom ) mas nunca isentas de imparcialidade. "Avaliar" é perigoso e ser "avaliado" pode ser cruel, mesmo quando essa avaliação é positiva. Mas porque também pode ser bom e porque foi bom receber esta prenda, sendo sempre agradável e motivador o elogio sincero, não vou quebrar a corrente, agarrando o boi pelos cornos, hesitante também,
aqui vão os meus piropos.
quarta-feira, 25 de abril de 2007
terça-feira, 24 de abril de 2007
in girum imus nocte et consumimur igni
Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
Eclesiastes 3:1-9
Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol? Uma geração passa, outra vem; mas a terra sempre subsiste. O sol se levanta, o sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo. O vento vai em direção ao sul, vai em direção ao norte, volteia e gira nos mesmos circuítos. Todos os rios se dirigem para o mar, e o mar não transborda. Em direção ao mar, para onde correm os rios, eles continuam a correr.
Eclesiastes 1:4-7
sábado, 21 de abril de 2007
sexta-feira, 20 de abril de 2007
quinta-feira, 19 de abril de 2007
terça-feira, 17 de abril de 2007
domingo, 15 de abril de 2007
quinta-feira, 12 de abril de 2007
nova era opus # 12




conquista

e ajuda

à felicidade


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Nelleke Beltjens
segunda-feira, 9 de abril de 2007
...e outra rosa.



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1 - 2
David Maisel